Creatio Continua

Category: Cerideias (Page 12 of 20)

Habemus ScriPitch

typewriter

 

Since the beginning of this year our team has been working on a new project that was made from scratch and now – this very weekend – is born in full shape. The project is called ScriPitch, and it’s basically a collaborative platform where independent screenwriters (or anyone!) can upload their film ideas and (un)finished scripts, and pitch them to a select group of production companies and to other fellow screenwriters.

At ScriPitch, we believe that every good idea deserves a shot. We personally make sure that the ScriPitch family (now growing exponentially all around the world) is composed only by members with one common feeling: the mixed passion of storytelling, cinema and filmmaking.

It is free.
It is simple.
And it’s a chance to make it work.

The idea of ScriPitch sounded good?
We are asking all our friends for their invaluable support spreading the word – to do that, like us on Facebook ( www.facebook.com/scripitch) and follow us on Twitter (@scripitch). Most importantly, TELL everyone about ScriPitch! Last but not least, feel free to create an account and pitch away your own projects! It will be a pleasure and an honor to have you all onboard with us.

ScriPitch will be officially launched on Sunday, 18th August, 23:59 Greenwich time.

http://www.scripitch.com/

Kind regards,

The ScriPitch team.

 

Nostalgia

The_Dark_Window_by_Sirfer

 

“Você lembra daquele dia que te encontrei na casa do —–?”, Rodrigo disse, fitando aqueles lindos olhos claros, de cor de mel, ou verdes, ou da cor do canto das sereias, com a melodia que atrai marujos ensandecidos para a morte certa junto às rochas.

Ele não era nada demais; um cara normal de 30 e poucos anos, em um emprego medíocre de uma cidade sem surpresas.

Ela era irresistível, e a imagem dela acordando com o rosto virado para a janela – com cabelos loiros caindo sob os seios delicados – iria assombrar os seus sonhos para sempre. Um pouco tímida, ela sorriu, espalhando clareza instantânea por um mundo confuso e barulhento, de almas vazias e luzes azuis.

Ele suspirou, finalmente entendendo a dimensão do que sentia por aquela mulher  praticamente desconhecida e, por consequência, entendendo o que todos os poetas sentiam por algo incompreensível. Queria emoldurar a beleza, mas o belo é sempre fugaz. Aquele sorriso sempre foi como uma estrela cadente, carregada de desejos, rasgando a escuridão da existência.

Quando ele estivesse velho, sentado em um sofá desgastado pelas memórias, pensaria em frases aleatórias. Em sentenças sem fôlego. Em meias palavras que nunca diziam nada. “O amor está morto. Nós os matamos”, repetiria para si mesmo, sem ter certeza se realmente pensava aquilo ou se tinha lido em algum lugar.

E entenderia, de certa forma, que a Nostalgia é como uma deusa grega. Bela e terrível, ela se arrasta por janelas abertas, carregada pela brisa de noites de sexta-feira, cochichando mentiras sobre o passado e brincando com sombras que não existem mais.

(Sessão Kinoarte) Impressões do Amor

(Acendendo o cachimbo e retomando velhos hábitos, a partir dessa semana volto a atualizar o Ceriblog com comentários de Cinema, seguindo semanalmente a programação escolhida pela Sessão Kinoarte)

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tres“Renoir” (Drama. França. 111 min).  Dirigido por Gilles Bourdos.  Na programação da Sessão Kinoarte do Cinesystem Londrina (Londrina Norte Shopping) até dia 08 de agosto. Diariamente às 21h35.

“Em minhas pinturas eu não uso cores negras. Já existe muita escuridão na vida”, explica um velho e rabugento Pierre-August Renoir (Michel Bouquet), enquanto escolhe as misturas para as tintas daquela que viria a ser, anos mais tarde, uma de suas mais célebres obras, “As Grandes Banhistas”. Seguindo o olhar do mestre impressionista nos anos finais de sua vida, o longa “Renoir” – ambientado na Riviera Francesa de 1915 –  mergulha o espectador nas cores vibrantes da bucólica paisagem nos arredores da última moradia do pintor impressionista; local onde o velho Renoir, mesmo sofrendo com as dores de uma artrite avançada, tenta capturar a beleza e o movimento da natureza em suas telas.

A rotina do ateliê é quebrada com a chegada de uma nova modelo, a bela e desbocada Andrée (Christa Theret), que desafia as habilidades do pintor e lhe serve como uma nova musa inspiradora, fazendo florescer nele o fogo de uma paixão platônica e ocupando, gradualmente, o lugar de sua recém falecida mulher, Aline. Desafiando o ambiente de serventia instaurado pelas outras criadas/amantes do pintor, Andrée também causa um impacto no filho mais novo de Renoir, Coco (Thomas Doret) e, especialmente, em seu filho Jean (Vincent Rottiers), que chega ao local dispensado da infantaria da Grande Guerra após sofrer um grave ferimento na perna.

Pincelada com perfeição pelo Diretor de Fotografia taiwanês Mark Lee Ping Bin, a linda atmosfera do longa consegue transmitir a importância que a beleza natural exerce como fonte primária das obras hedonísticas de Renoir; em um trabalho magnífico, cada frame é trabalhado cuidadosamente para apresentar o universo particular do artista, e sua mansão na Riviera é pintada com as cores de um verdadeiro Jardim do Éden, protegida das inseguranças do mundo ‘exterior’ – fato que, de maneira subliminar, parece incomodar Jean Renoir, despido do romantismo do pai pela crueldade da guerra.

Mas se as relações entre o velho Renoir e a bela Andrée justificam a influência que um personagem teve sobre o outro, infelizmente o papel de Jean – considerado um dos grandes cineastas do séc. XX – fica bem abaixo das expectativas. Com uma atuação que parece monocromática, Rottiers não consegue conferir profundidade ao personagem, e isto faz com que os conflitos do rapaz praticamente desapareçam, deixando em branco o importante espaço que Jean ocuparia no desenvolvimento da história.

Prejudicado pela incapacidade do ator, o roteiro também falha em sustentar a própria premissa, e não consegue expor com força suficiente o conflito entre gerações; especialmente o relacionamento de amor e ódio que os Renoir sentiam pela Arte e pelas suas mulheres (na biografia deles, ambos sentimentos caminharam sempre juntos).

Selecionado para a mostra “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes do ano passado, “Renoir” impressiona pelo visual deslumbrante ao mesmo tempo em que é enfraquecido pela narrativa irregular, que não transmite o peso que os relacionamentos dentro da familia Renoir – ao mesmo tempo carinhosa e iráscivel – exerceram sobre a veia artística de cada um de seus integrantes. O filme é lindo, mas poderia ter sido emocionante.

 

‘Hacienda Hadley’

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“Caro Scott,

Nós estamos indo para Pamplona amanhã. Estou pescando trutas aqui.

Como você está? E como está Zelda?

Estou me sentindo melhor do que nunca – não bebi nada a não ser vinho desde quando saí de Paris. Deus, é um interior maravilhoso. Mas você odeia o interior. Então não vou falar do interior. Eu estou pensando em qual seria a sua definição de ‘Paraíso’ – um vácuo lindo repleto de monógamos ricos. Todos membros de famílias ricas e poderosas e bebendo até a morte. E o seu Inferno provavelmente é um vácuo feio repleto de pobres polígamos que são proibidos de beber álcool ou com desordens crônicas de estômago e tristezas secretas.

Para mim, o Paraíso seria uma imensa arena de tourada, onde eu sempre teria os dois melhores lugares para assistir ao espetáculo e uma lagoa repleta de trutas do lado de fora, onde para ninguém, além de mim, seria permitido pescar. Eu teria duas bonitas casas na cidade; em uma delas ficaria minha esposa e meus filhos, e eu seria monógamo e amaria os dois verdadeiramente. Na outra casa eu teria nove belas amantes, em nove andares diferentes, e a casa inteira seria recheada com cópias especiais da revista The Dial impressas em papel macio, e mantidas em banheiros espalhados por todos os andares. Na outra casa, nós usariamos para nos limpar a American Mercury e a New Republic. Então existiria uma bela igreja – como a de Pamplona – onde eu pudesse me confessar, e o lugar ficaria entre uma casa e outra, e eu chegaria até lá no meucavalo, e andaria nele com meu filho até a minha fazenda de touros chamada ‘Hacienda Hadley’ e jogaria moedas para meus filhos bastardos que vagariam pelas estradas.

Eu escreveria em paz na Hacienda, e de lá mandaria meu filho sair para colocar cintos de castidade nas minha amantes quando ficasse sabendo da notícia que um notório monôgamo chamado Fitzgerald estava chegando ali, na companhia de diversos amigos bêbados.

Estamos indo amanhã para a cidade. Me mande cartas para o Hotel Quintana/ Pamplona / Espanha.

Ou você não gosta de escrever cartas?
Eu gosto, porque esta é uma boa maneira de não trabalhar,
e mesmo assim sentir que você está escrevendo alguma coisa.

Até logo, e mande nosso amor para Zelda.

Sinceramente,

Ernest”

Carta de Ernest Hemingway para Scott Fitzgerald,

enviada no dia 1 de junho de 1925

 

Para uma Garota Bonitinha

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“Por quê você não escreve uma história de amor bonitinha?”, ela me perguntou enquanto me fitava com olhos negros como uma noite sem estrelas, me beijando no pescoço com lábios que tinham gosto de morango. “Como assim?”, pensei, em voz alta. “Não sei. Tudo o que você escreve sempre acaba mal”, ela respondeu, sorrindo.

Fugindo de qualquer coisa mais séria, eu ri de volta. Brinquei dizendo que um dia, talvez, eu escrevesse ‘a nossa história bonitinha’. Que talvez fizesse um filme de amor que acabasse com a gente velejando em direção ao pôr-do-sol no Mediterrâneo.

Dentro daquele micronésimo de segundo, eu estava completamente apaixonado, com cara de bobo. E foi difícil  de explicar que tenho um acordo comigo mesmo; não consigo fazer nada com o gosto de resto de café morno que sobrou do almoço.

E que Chronos, o Tempo, é impiedoso. Ele não perdoa os devotos de uma rotina excruciante, sem sabor, sem paixão, em aceleração constante para lugar nenhum. Não é uma questão de ter pressa e de fazer ‘tudoaomesmotempoagora’; Pelo contrário – respeitar o Tempo é respeitar os momentos em que os ponteiros parecem parar, nunca se esquecendo de guardar espaço no coração para tudo aquilo que não volta. É preservar a gratidão pelas coisas especiais que surgem no fluxo da vida.

Acho difícil de escrever uma história de amor ‘bonitinha’ porque sempre vi o “Felizes para Sempre” como sendo uma aberração do amor – mais do que isto, esta sentença de filmes de sessão da tarde parece coisa escrita para costurar os trapos de um sentimento que, há muito, perdeu o verdadeiro significado. A vida é cheia de possibilidades, e o amor é vida: ele flui, pulsa, sobrevive às condições adversas, deixa cicatrizes, sorrisos, lágrimas e, um belo dia, de uma maneira ou de outra, ele acaba.

E o fim não precisa ser terrível. Não é ponto final é que revela a beleza das grandes histórias? Não é o silêncio que se destaca dentro das melodias inesquecíveis? O último frame de um filme não é, sempre, o mais definitivo? Eu escrevo sobre aqueles cinco segundos depois que tudo acaba, que te impedem de respirar e te fazem engasgar de emoção – seja de alegria ou de tristeza. Estes segundos, para mim, são momentos que revelam uma beleza verdadeira.

Ainda não encontrei com ela depois daquela noite.

Espero que tenha sobrado algo bonito de nós dois.

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