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“Por quê você não escreve uma história de amor bonitinha?”, ela me perguntou enquanto me fitava com olhos negros como uma noite sem estrelas, me beijando no pescoço com lábios que tinham gosto de morango. “Como assim?”, pensei, em voz alta. “Não sei. Tudo o que você escreve sempre acaba mal”, ela respondeu, sorrindo.

Fugindo de qualquer coisa mais séria, eu ri de volta. Brinquei dizendo que um dia, talvez, eu escrevesse ‘a nossa história bonitinha’. Que talvez fizesse um filme de amor que acabasse com a gente velejando em direção ao pôr-do-sol no Mediterrâneo.

Dentro daquele micronésimo de segundo, eu estava completamente apaixonado, com cara de bobo. E foi difícil  de explicar que tenho um acordo comigo mesmo; não consigo fazer nada com o gosto de resto de café morno que sobrou do almoço.

E que Chronos, o Tempo, é impiedoso. Ele não perdoa os devotos de uma rotina excruciante, sem sabor, sem paixão, em aceleração constante para lugar nenhum. Não é uma questão de ter pressa e de fazer ‘tudoaomesmotempoagora’; Pelo contrário – respeitar o Tempo é respeitar os momentos em que os ponteiros parecem parar, nunca se esquecendo de guardar espaço no coração para tudo aquilo que não volta. É preservar a gratidão pelas coisas especiais que surgem no fluxo da vida.

Acho difícil de escrever uma história de amor ‘bonitinha’ porque sempre vi o “Felizes para Sempre” como sendo uma aberração do amor – mais do que isto, esta sentença de filmes de sessão da tarde parece coisa escrita para costurar os trapos de um sentimento que, há muito, perdeu o verdadeiro significado. A vida é cheia de possibilidades, e o amor é vida: ele flui, pulsa, sobrevive às condições adversas, deixa cicatrizes, sorrisos, lágrimas e, um belo dia, de uma maneira ou de outra, ele acaba.

E o fim não precisa ser terrível. Não é ponto final é que revela a beleza das grandes histórias? Não é o silêncio que se destaca dentro das melodias inesquecíveis? O último frame de um filme não é, sempre, o mais definitivo? Eu escrevo sobre aqueles cinco segundos depois que tudo acaba, que te impedem de respirar e te fazem engasgar de emoção – seja de alegria ou de tristeza. Estes segundos, para mim, são momentos que revelam uma beleza verdadeira.

Ainda não encontrei com ela depois daquela noite.

Espero que tenha sobrado algo bonito de nós dois.