Trecho do livro “To the Actor”, de Michael Chekhov. Traduzido por Ceriblog


É tarde. Depois de um longo dia de trabalho e de muitas impressões, experiências, ações e palavras – você relaxa e tenta descansar. Você senta com seus olhos fechados. O que aparece na escuridão, em frente aos olhos de sua mente? Você revisita os rostos das pessoas que você encontrou durante o dia, suas vozes, movimentos, suas características e humores. Você corre novamente pelas ruas, passa por casas familiares, lê os sinais. Passivamente, você acompanha a multidão de imagens em sua memória.

Sem perceber, você ultrapassa os limites de hoje, e em sua imaginação surgem visões de sua vida passada. Seus desejos esquecidos e não realizados, seus anseios, seus objetivos, suas vitórias e suas derrotas aparecem como imagens em sua mente. Na verdade, elas não são fiéis aos fatos; essas imagens não são cristalinas como o dia que acabou de passar. Elas estão um pouco diferentes. Mas você ainda as reconhece. Visualizando mentalmente, você acompanha o movimento delas com um grande interesse, com uma atenção redobrada, porque elas estão mudadas. Elas, agora, carregam alguns traços de sua imaginação.

Muito mais acontece… Nas visões do passado algumas imagens surgem, aqui e ali, que são totalmente desconhecidas para você! Elas são produto de sua imaginação criativa. Elas aparecem, desaparecem, e ressurgem novamente, trazendo com eles novos desconhecidos. Eles se relacionam. Eles começam a “atuar”, praticar “perfomances” diante de seu olhar fascinado. Você segue suas vidas. Você fica absorto, sendo carregado até sentimentos estranhos, diferentes atmosferas, casos de amor, ódio, felicidade e infelicidade desses hóspedes imaginários.

Você está acordado, e sua mente está ativa. As reminiscências de si mesmo ficam cada vez mais distantes; essas novas imagens são mais fortes. Você se surpreende pelo fato de cada uma delas possuir uma vida independente; elas aparecem sem convite.

Elas te forçam a sorrir e chorar com eles. Como mágicos, eles te convidam para o palco, e você tem o desejo incontrolável de se juntar a eles. Você faz parte das conversas, e se vê junto com eles; você quer atuar, e você faz isso. De um estado mental passivo, essas imagens te fizeram agir.

Este é o poder de sua imaginação.