Creatio Continua

Mês: agosto 2013 (Page 1 of 2)

(Sessão Kinoarte) Antes que o Amor Acabe

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bifffive“Antes da Meia-Noite” (Drama. USA. 109 min).  Dirigido por Richard Linklater.  Na programação da Sessão Kinoarte do Cinesystem Londrina (Londrina Norte Shopping). Diariamente às 21h40.

 

Viajando em um trem que corta a Europa em direção à Paris, um casal alemão discute aos berros.

Incomodado pelo barulho causado pelos dois, o jovem Jesse (Ethan Hawke) se levanta e muda de assento, para a última fileira do vagão. Ao lado do lugar onde ele senta, está  a jovem e bela Celine (Julie Delpy). Ele olha para ela. Ela olha de volta, enquanto finge se concentrar em um livro. Ele insiste. “Imagina se nós dois casarmos e, daqui a vinte anos, estivermos brigando daquele jeito?”, brinca Jesse, e Celine sorri. Ali começava uma grande história de amor, idealizada como uma trilogia pelo cineasta Richard Linklater. 

“Antes do Amanhecer”, de 1995, acompanha os dois jovens enquanto eles caminham pelas ruas da antiga cidade de Viena e se descobrem um no outro. Ela é francesa. Ele é americano. Ambos estão decepcionados com relacionamentos amorosos e incertos sobre o futuro que os espera na volta para casa. Com uma cumplicidade franca – que, talvez, só possa existir mesmo entre completos estranhos – os dois conversam abertamente sobre o amor, os sonhos, sexo, vida e morte, tudo isto enquanto passeiam por entre vielas medievais com paredes cheias de significados, restaurantes vazios, mendigos poetas e cemitérios secretos.

Deitados sob as estrelas em um parque da cidade, os dois se apaixonam. Na manhã seguinte, o trem de Celine vai embora para a França, e o avião de Jesse decola em direção aos EUA. Antes do destino separar os dois, o casal troca juras de amor, e ambos prometem se reencontrar novamente em Viena. O filme acaba e nos deixa a sensação de um romance que é, ao mesmo tempo, verdadeiro e efêmero, ingênuo e real.

Nove anos depois, em “Antes do Pôr-do-Sol” (2004), reencontramos Jesse em uma sessão de autógrafos da turnê internacional de seu livro, bestseller nos EUA. Em meio às perguntas dos jornalistas, ele perde o fôlego quando percebe que está sendo observado por Celine. Ambos vão tomar um café e acabam conversando sobre uma faceta mais madura dos mesmos problemas existenciais. Ele está casado e tem um filho. Ela namora e tem um emprego nas Nações Unidas. Aperfeiçoando sua fórmula, Linklater segue o diálogo entre os dois em ‘tempo real’, sem nenhuma elipse temporal entre a primeira e a última cena do filme, e a história termina com um tom de esperança para o futuro do casal – o amor, parece, venceu o tempo.

Parece um felizes para sempre? Nada disso.

Especialmente por já conhecermos tão profundamente os personagens e nos acostumarmos com a sintonia do trabalho entre Hawke e Delpi (ambos geniais em seus papéis) é que o tom melancólico que permeia “Antes da Meia-Noite” atinge em cheio seu objetivo dramático. Dessa maneira, seu ápice emocional consegue nos alcançar em um nível pessoal; é como assistir um casal de velhos amigos se despedaçando.

O ano é 2013. Jesse e Celine estão passando férias em uma ilha grega em companhia de suas duas filhas gêmeas e do filho adolescente de Jesse,  fruto de seu primeiro casamento. O longa começa com a despedida entre o pai e o filho no aeroporto – as férias de verão do garoto acabaram, e ele tem que voltar para a sua escola nos EUA.

No carro, durante o caminho de volta para uma pousada, descobrimos que o fato de ver pouco o filho incomoda Jesse, e que ele se vê obrigado a ficar afastado dos EUA por causa do trabalho de Celine. Entre risos e brincadeiras, surge a semente de um conflito inevitável.

O ritmo da narrativa, mantido durante toda a trilogia pelo cineasta Richard Linklater (que move a câmera em cenas longas, pontuada por diálogos com um número mínimo de cortes) é essencial para o espectador entender a verdadeira beleza do filme – que consiste no envolvimento genuíno entre os dois personagens e o ambiente que os cerca. É mais do que assistir um casal conversando. Aos poucos, também nos apaixonamos por Jesse e Celine, entendendo seus sonhos e seus medos.

Por isto que é tão terrível observar o abismo que o tempo criou na comunicação entre os dois. Celine está totalmente envolvida com a carreira e com as filhas, enquanto Jesse tenta buscar inspiração em outras mulheres, enxergando apenas uma sombra daquela garota que conheceu anos atrás. Os personagens, maduros, aprenderam que o amor caminha de mãos dadas com o ódio. Que a vida foge ao controle.  Que a satisfação plena não existe.

Mesmo assim a paixão ainda grita. O coração, cheio de cicatrizes, ainda pulsa. “A vida é feita para ser difícil. Se não fosse assim, nunca aprenderíamos nada”, desabafa Jesse, analisando o fim do relacionamento que desenvolveu com sua musa inspiradora. “Será que aprendemos alguma coisa? Será que não somos, ainda, os mesmos de sempre?”, reflete Celine, em uma pergunta que fica sem resposta. O amor sobrevive – mas talvez seja uma ilusão;  uma chama que precisa ser alimentada e (re)inventada para não se extinguir completamente.

Para os apaixonados por cinema, acompanhar o trabalho de Linklater é como assistir a uma aula sobre  as facetas paradoxais do sentimento humano, mostrados através de uma câmera. Para os apaixonados em geral, a trilogia é uma obra-prima do romance, difícil de ser comparada com qualquer uma lançada nas últimas duas décadas.

Ao Leitor

*tradução do poema “Au Lecteur”, de Charles Baudelaire

baudelaire

“A tolice, o erro, o pecado, a mesquinhez
Ocupam nossos espíritos e viajam por nossos corpos,
E nos alimentam de nossos amáveis remorsos,
Assim como o mendigo alimenta seus vermes.

Nossos pecados são teimosos,
nossos arrependimentos são frouxos;
Nós nos confessamos com persistência ,
Mas retornamos alegremente pela estrada lamacenta,
Com a ilusão de que nossas lágrimas lavam nossas manchas.

Sobre o travesseiro do mal, está escondido o Diabo
Que docemente consola nosso espírito,
E quando o metal puro de nossa vontade se evoca
Ele vira vapor pelas obras deste, que age sem ser visto.

É o diabo que move seus filhos e até os manuseia!
E só nos é possível enxergar coisas boas naquilo que é repugnante;
Todos os dias caminhamos para mais perto do Inferno,
Sem medo, dentro das trevas que nos cercam.

Assim como um vagabundo beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma prostituta,
Roubamos por acaso qualquer carícia que recebemos
Para espremê-la até o fim assim como esprememos uma laranja velha.

Espesso, a fervilhar, assim como um milhão de parasitas,
Em nosso crânio cresce uma multidão demônios,
E, toda vez que respiramos, a morte suspira em nossos pulmões,
Como um rio invisível, com surdos murmúrios.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A história de nossos inúteis destinos,
É que nossa alma arriscou pouco, ou quase nada.

Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
Em meio ao lodo infâme de nossos vícios,

Um é o mais feio, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por puro prazer, faria um só detrito
E um bocejo imenso engoliria o mundo;

É o Tédio! –
O olhar que foge ao mínimo de emoção,
Em vão sente prazer no sonho, enquanto fuma ervas finas.
Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado –

Hipócrita leitor,
Meu espelho –
Meu irmão.”

(Sessão Kinorte) The Bling Ring

 

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two-and-a-half-stars“The Bling Ring” (Drama. USA. 90 min).  Dirigido por Sofia Coppola.  Na programação da Sessão Kinoarte do Cinesystem Londrina (Londrina Norte Shopping). Diariamente às 17h50, 19h50 e 21h50.

 

“Eu amo Los Angeles. Eu amo Hollywood. Todos são lindos. Todos são de plástico, mas eu amo plástico. Eu quero SER plástico.”  – Andy Warhol

Entre outubro de 2008 e agosto de 2009, uma série roubos aconteceram em uma das áreas mais nobres da cidade de Los Angeles. Os ladrões, aparentemente, sabiam sobre todos os passos de suas vítimas, e conseguiam entrar nas mansões de celebridades sem deixar nenhum vestígio de arrombamento, levando apenas itens de alto valor. O caso intrigava a polícia: seria uma quadrilha internacional de tráfico de jóias? Uma rede criminosa especializada em produtos “high end”? Um esquema envolvendo revendedores de relógios Rolex e sapatos Louboutin?

Foi uma surpresa quando revelado – através de uma investigação utilizando gravações de câmeras de segurança e atualizações do Facebook – que os integrantes da chamada Gangue de Hollywood eram na verdade sete adolescentes de classe média alta, filhos de familias ricas e praticamente vizinhos das casas que assaltavam. Liderados pela garota Rebecca (Katie Chang), os jovens “Bling Ring” roubaram diversos itens de famosos como Paris Hilton, Orlando Bloom e Lindsay Lohan, causando danos avaliados em cerca de  U$ 3 milhões de dólares.

Baseado na história real, o filme “The Bling Ring” começa apresentando o relacionamento da estudante Rebecca com Marc (Israel Broussard): novato no colégio e já taxado como um “perdedor”, o garoto homossexual é ajudado pela jovem a se enturmar com outros alunos e, em contrapartida, começa a cultivar uma paixão platônica pela melhor amiga. Logo descobrimos que Rebecca tem tendências cleptomaníacas, e que um de seus passatempos favoritos é roubar itens dentro de carros estacionados.

Ao mesmo tempo conhecemos o cotidiano das irmãs ‘adotivas’ Nicki (Emma Watson) e Sam (Taissa Farmiga), que foram retiradas do colégio para serem ensinadas pela mãe Laurie (Leslie Mann) por “aulas” baseadas inteiramente na filosofia medíocre de livros de auto-ajuda; especialmente no best-seller “O Segredo”. Apesar da suposta espiritualidade ensinada para as garotas, a vida das duas gira em torno da ostentação e da fama nas redes sociais.

Unidos pelo fascínio ao glamour e às celebridades, o grupo formado por Marc,  Rebecca, Nicki e Sam (e outros integrantes que mudam, dependendo do assalto) logo tem a ideia de invadir a casa de famosos que estejam viajando e que deixaram suas casas desprotegidas. É um roubo fácil, já que a maioria deles esquece uma janela ou porta destrancada.

É interessante perceber o quanto que a escolha das celebridades pela gangue serve como um reflexo da personalidade dos próprios assaltantes. Se a sociedade é representada pelos seus ídolos, o que dizer de uma juventude que tem como ‘modelos de sucesso’ completas idiotas narcisistas como Paris Hilton ou degeneradas como Lindsay Lohan?

Não é difícil entender os motivos pelos quais a história chamou a atenção da cineasta Sofia Coppola; a diretora de filmes como “Um Lugar Qualquer” (2010) e “Encontros e Desencontros” (2003) adora explorar o vazio existencial em seus próprios personagens – e nada é mais emblemático do que riquinhos roubando a casa de seus ídolos, movidos apenas pelo fetichismo da experiência.

Mas, se em seus outros filmes, o distanciamento em relação aos sentimentos dos protagonistas faz com que o espectador se envolva subjetivamente em seus conflitos e emoções, em “The Bling Ring” a estratégia tem efeito contrário. A atitude “blasé” dos jovens soa falsa e desencadeia um abismo emocional extremamente prejudicial à narrativa, que já é cheia de furos e que se revela, cada vez mais, episódica e sem fluidez. Percebendo a falta de ritmo na história, Coppola ainda tenta ‘remendar’ o roteiro com discursos em ‘off’ de seus personagens principais, em uma atitude que só serve para enfraquecer o impacto das ações na tela.

Por isso que, mesmo contando com uma ótima fotografia de Harris Savides e Christopher Blauvelt e com boas atuações do seu elenco principal – com destaque para uma pervertida Emma Watson – “The Bling Ring” acaba decepcionando como filme. Os personagens são plastificados ao extremo. Não existe significado. Não nos importamos com o destino de nenhum deles. A sensação que fica, depois de sair do cinema, é que você acabou de assistir um TMZ de 90 minutos.

 Mea culpa, talvez seja um erro esperar demais de um filme sobre nada.

Habemus ScriPitch

typewriter

 

Since the beginning of this year our team has been working on a new project that was made from scratch and now – this very weekend – is born in full shape. The project is called ScriPitch, and it’s basically a collaborative platform where independent screenwriters (or anyone!) can upload their film ideas and (un)finished scripts, and pitch them to a select group of production companies and to other fellow screenwriters.

At ScriPitch, we believe that every good idea deserves a shot. We personally make sure that the ScriPitch family (now growing exponentially all around the world) is composed only by members with one common feeling: the mixed passion of storytelling, cinema and filmmaking.

It is free.
It is simple.
And it’s a chance to make it work.

The idea of ScriPitch sounded good?
We are asking all our friends for their invaluable support spreading the word – to do that, like us on Facebook ( www.facebook.com/scripitch) and follow us on Twitter (@scripitch). Most importantly, TELL everyone about ScriPitch! Last but not least, feel free to create an account and pitch away your own projects! It will be a pleasure and an honor to have you all onboard with us.

ScriPitch will be officially launched on Sunday, 18th August, 23:59 Greenwich time.

http://www.scripitch.com/

Kind regards,

The ScriPitch team.

 

Nostalgia

The_Dark_Window_by_Sirfer

 

“Você lembra daquele dia que te encontrei na casa do —–?”, Rodrigo disse, fitando aqueles lindos olhos claros, de cor de mel, ou verdes, ou da cor do canto das sereias, com a melodia que atrai marujos ensandecidos para a morte certa junto às rochas.

Ele não era nada demais; um cara normal de 30 e poucos anos, em um emprego medíocre de uma cidade sem surpresas.

Ela era irresistível, e a imagem dela acordando com o rosto virado para a janela – com cabelos loiros caindo sob os seios delicados – iria assombrar os seus sonhos para sempre. Um pouco tímida, ela sorriu, espalhando clareza instantânea por um mundo confuso e barulhento, de almas vazias e luzes azuis.

Ele suspirou, finalmente entendendo a dimensão do que sentia por aquela mulher  praticamente desconhecida e, por consequência, entendendo o que todos os poetas sentiam por algo incompreensível. Queria emoldurar a beleza, mas o belo é sempre fugaz. Aquele sorriso sempre foi como uma estrela cadente, carregada de desejos, rasgando a escuridão da existência.

Quando ele estivesse velho, sentado em um sofá desgastado pelas memórias, pensaria em frases aleatórias. Em sentenças sem fôlego. Em meias palavras que nunca diziam nada. “O amor está morto. Nós os matamos”, repetiria para si mesmo, sem ter certeza se realmente pensava aquilo ou se tinha lido em algum lugar.

E entenderia, de certa forma, que a Nostalgia é como uma deusa grega. Bela e terrível, ela se arrasta por janelas abertas, carregada pela brisa de noites de sexta-feira, cochichando mentiras sobre o passado e brincando com sombras que não existem mais.

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