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Mês: outubro 2013

The Paris Review

Trechos da entrevista feita com Ernest Hemingway para o ‘The Paris Review’, em 1958.
Traduzido e editado por Ceriblog
ernest-hemingway

INTERVIEWER

Você pode dizer alguma coisa deste processo de escrever? Quando você trabalha? Você mantém uma agenda rígida?

HEMINGWAY

Quando estou trabalhando em um livro ou uma história eu escrevo toda manhã, na primeira luz do sol. Nesse momento não existe ninguém para te perturbar e está fresco ou gelado e você pode trabalhar e se aquecer enquanto escreve. Você lê o que está escrito e para exatamente quando sabe o que vai acontecer em seguida. Você escreve até o ponto que ainda tem sua “inspiração” e sabendo o que vai acontecer, até o próximo dia em que tudo começa novamente. Você pode começar às seis da manhã e ir até o meio-dia, ou antes disso. Quando você para de escrever, está vazio, e ao mesmo tempo está se preenchendo de coisas novas, é o mesmo sentimento de quando você acaba de fazer amor com alguém que você ama. Nada pode te machucar, nada pode acontecer, nada significa nada até o próximo dia de manhã, quando você começa novamente. Esperar até o dia seguinte é a parte mais difícil.

INTERVIEWER

A estabilidade emocional é necessária para escrever bem? Você uma vez me disse que só podia escrever coisas boas enquanto estava apaixonado. O que isto quer dizer?

HEMINGWAY

Que pergunta confusa. Mas boa tentativa. Você pode escrever em qualquer momento em que as pessoas te deixam em paz e não te interrompem. Ou se você puder se manter afastado suficientemente de tudo isto. Mas os melhores textos certamente acontecem quando você está apaixonado.

INTERVIEWER

O que você recomendaria como o melhor treino intelectual para alguém que quer ser um escritor?

HEMINGWAY

Acho que uma pessoa assim deve sair de casa e se enforcar em uma árvore, porque escrever bem é uma tarefa tão difícil que chega a ser impossível. Depois, ele deve cortar a corda e se obrigar, sem misericórdia, a tentar escrever qualquer coisa pelo resto da vida. Pelo menos ele pode começar com a história da forca.

INTERVIEWER

Você escreveu uma vez na revista Transatlantic Revies que a única razão para trabalhar com jornalismo é que você era bem pago, e com regularidade. Você disse: “E quando você destrói o conhecimento precioso que adquiriu escrevendo sobre isto, é melhor que faça em troca de bastante dinheiro”. Você pensa que escrever é uma forma de auto-destruição?

HEMINGWAY

Eu não me lembro de ter escrito. Mas soa idiota e violento o bastante para eu ter dito isto. Eu certamente não penso em escrever como sendo um tipo de auto-destruição, mas o jornalismo, após  um certo ponto, pode ser uma auto-destruição diária para o escritor criativo.

INTERVIEWER

Então quando você não está escrevendo, permanece como observador? Procurando por algo que pode ser utilizado?

HEMINGWAY

Com certeza. Se um escritor para de observar ele está acabado. Mas não é necessário observar algo conscientemente ou pensando em como aquilo pode ser útil. Talvez no começo seja isto. Mas mais tarde na carreira tudo que ele vê será armazenado em uma grande reserva de coisas que ele já viu ou ouviu falar. Eu sempre tento escrever utilizando o princípio do iceberg. Existem sete oitavos de material submerso para cada parte que está visível. Tudo que o escritor sabe e pode deixar de fora da história apenas fortalece o iceberg. Mas o escritor tem que conhecer todo o iceberg, e não deixar algo de fora sem saber porquê.

“O Velho e o Mar” poderia ter mais de mil páginas se eu descrevesse todo personagem da aldeia e como todos eles viviam suas vidas, nasceram, foram educados, tiveram filhos, etcétera. Acredito que alguns escritores fazem isto muito bem. Eu tentei eliminar tudo que achei desnecessário para a experiência do leitor, para quando ele lesse a história também fizesse parte de sua experiência. Esta técnica é muito difícil, e trabalhei bastante para alcançar isto.

INTERVIEWER

Para terminar, uma pergunta fundamental: como um escritor criativo, qual você acha que é o papel de sua arte?

HEMINGWAY

Para quê se perguntar isto? Inspirado por tudo que já aconteceu e pelas coisas que existem e por todas as coisas que você sabe e também por aquelas que você nunca irá saber, você cria algo através de uma invenção. Não é uma representação de nada, mas algo novo, mais verdadeiro de que qualquer coisa que exista e que está viva. Sua missão é dar vida aos seus escritos e, se você fizer isto corretamente, poderá alcançar a imortalidade. É por isto que qualquer um escreve, e por mais nenhum motivo.

 

Leia a entrevista completa (em inglês) neste link –

Monet

 

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Eu apenas observava sonolento e, depois que ela acabava de falar sobre todas as coisas do mundo, prestava atenção na sua respiração acelerada e nas batidas do seu peito fora de ritmo. Ouvia ela suspirar olhando para o teto, antes de me abraçar. “Me conta alguma coisa”, pedia. É doce a ilusão da perfeição; ela era alimentada por histórias, eu era um contador de histórias. Mas nessa hora nós dois ficamos quietos, ouvindo a chuva cair lá fora. Nesses momentos, falar para quê?

Respondia percorrendo seu corpo; entrelaçando meus dedos nos dela, apertando levemente sua barriga, suspirando o perfume de seus cabelos negros. Ela entrava nessa dança dos sentidos mordiscando meu pescoço e me olhando com curiosidade. O que eu queria? Talvez, desaparecer. Mergulhar no vazio de uma sensação sem nome.

A tempestade despencava impiedosamente pela cidade e sob nosso teto de espelhos; a lua cheia era encoberta pelas névoas na madrugada daquela sexta ou sábado, surgindo como imagens que estão guardadas na minha memória com o mesmo sentimento de pinceladas de Monet.

Minhas noites de junho foram assim: champagne, suor, prazer e dor, seu sorriso e algumas lágrimas pelo caminho.

E, agora, te escrevi em papel.

Posso te imprimir e guardar no bolso, te levar para onde eu quiser.

Agora, só agora, você é minha.

Esta cidade é minha.

Este momento é meu.

Três

Três-2

Rodrigo e Júlia terminam um namoro de dois anos. Enquanto tenta se readaptar à vida de solteiro, Rodrigo passa por momentos de alegria e de monotonia.

Direção e Roteiro –
Rafael Ceribelli

Assistente de Direção – Fernanda Leme

Direção de Fotografia –
Alejandra Flórez

Elenco –
João Filipecki
Juliana Costa Pereira
Rafael Ceribelli

Som – William West

 

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