…Quando nos perdemos na consideração da grandeza infinita do mundo no espaço e no tempo, ou quando meditamos nos séculos passados e vindouros, ou também quando consideramos o céu noturno estrelado, tendo inumeráveis mundos efetivamente diante dos olhos, e a incomensurabilidade do cosmo se impõe à consciência – então sentimo-nos reduzidos a nada. Como indivíduo, como corpo vivo, como aparência transitória da vontade; uma gota no oceano, condenados a desaparecer, a dissolvermo-nos neste imenso nada.
Mas eis que se eleva simultaneamente, indo contra tal fantasma de nossa nulidade, contra aquela impossibilidade mentirosa, a consciência imediata de que todos esses mundos existem apenas em nossa representação. Ou seja, apenas como modificações do eterno sujeito do puro conhecer, o qual nos sentimos assim que esquecemos a individualidade; esse sujeito do conhecer é o sustentáculo necessário e condicionante de todos os mundos e de todos os tempos.
A grandeza do mundo, antes intranquilizadora, repousa agora em nós.
Nossa dependência dela é suprimida por sua dependência de nós.
Tudo isso, contudo, não entra em cena imediatamente na reflexão, mas se mostra como uma consciência apenas sentida e que, em certa forma (que apenas a filosofia pode revelar), somos unos com o mundo e, por conseguinte, não somos oprimidos por sua incomensurabilidade, mas ao invés disso somos elevados.
É a consciência sentida naquilo que os Upanishads dos Vedas já exprimiram repetidas vezes, de maneira variada. Trata-se de elevação para o além do indivíduo. Este é o sentimento do sublime.
Trecho de “O Mundo Como Vontade e Representação”, de Arthur Schopenhauer