Creatio Continua

Mês: setembro 2015

Startupar é Preciso

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Tudo começou em uma madrugada de um outro setembro, enquanto rabiscávamos quadros-brancos tentando preencher folhas de papel com linhas de programação php e smiles rabiscados com canetinhas coloridas. A ideia tinha que estar ali, em algum lugar entre os pedaços de pizza fria ou na cerveja esquecida pela metade em cima da mesa de centro. O som que tocava era de alguma música do Sgt. Peppers Lonely Heart, e quem observasse de longe aquelas três figuras pensativas no meio de uma sala enfumaçada pelo tabaco amadeirado da Virginia demoraria para entender o que estava nascendo naquele momento. “E se a gente focasse nesse botão vermelho, ficaria mais fácil?”, sugeriu Martim Fernandes, engenheiro, amigo de longa data e um dos idealizadores daqueles encontros semanais. “Óbvio”, respondeu laconicamente Cao Oliver - o mago programador que faria isto virar realidade. Alguma coisa estalou naquele momento. Assim, com uma mudança repentina de atitude, saímos de um labirinto mental para encontrarmos a primeira obra da startup Yuniverse: assim nascia o ScriPitch.

Nesse mês em que nossa plataforma para roteiristas independentes completa dois anos, não poderia deixar de escrever um pouco mais sobre as motivações que levaram três cabeças a se juntarem para criarem algo novo. A ideia é simples: o ScriPitch pretende democratizar o acesso à boas ideias e servir como uma plataforma onde roteiristas independentes possam compartilhar seus filmes, documentários ou séries de TV para serem adquiridos por produtoras de pequeno, médio ou grande porte. Toda boa ideia merece uma chance, e nossa ferramenta quer proporcionar exatamente isto.

Nos bastidores, o clima de ‘ideia de garagem’ sempre foi algo que buscamos implementar no cotidiano de trabalho do ScriPitch. Para valer a pena navegar pelos oceanos infinitos das ideias - sem nenhum mapa do tesouro ou garantia de terra à vista - é preciso trabalhar com prazer, fortalecendo laços de amizade dentro de uma perspectiva que assuma as bandeiras de “liberdade e responsabilidade” de cada um da equipe. É com imensa satisfação que o ScriPitch conseguiu encontrar um público fiel e parceiros legais, que assumem os mesmos compromissos; estamos muito animados com a cooperação fantástica que estabelecemos com a inCast, que sabemos que é uma equipe comprometida com os mesmos ideais de colaboração, visando o crescimento do mercado audiovisual nacional.

Aliás, co-working e co-thinking são dois termos que abraçamos com entusiasmo nos últimos meses. A última novidade do ScriPitch é que também fazemos parte do grupo Se7upers - primeiro conglomerado de startups no Brasil que trabalha com a troca livre de informações, seguindo um protocolo completamente colaborativo e aberto. Esperamos conseguir manter essas novas descobertas, abrindo caminhos de diferentes maneiras, pensando “fora da caixa” e seguindo adiante com o mesmo espírito do começo, com ideias rabiscadas pelas paredes.

Porque Startupar é preciso…
E se divertir também é preciso.

Roteiro para Séries de TV – entrevista por Rodrigo Grota

Mad Men -

Escrito e publicado por Rodrigo Grota em sua coluna no Portal Bonde (acesse aqui)

Todos sabem que o meu terreno é o cinema. Assisti a poucas séries de TV, e confesso que vi na íntegra apenas uma – True Detective. No entanto, com a crescente qualidade dos roteiros para algumas séries, é cada vez mais comum encontrar textos sobre uma suposta dualidade entre o cinema e a TV. Estaria hoje a TV americana mais madura, em termos estéticos e de dramaturgia, que a produção de Hollywood? 

Para compreender um pouco mais essa questão, conversei com o jornalista e cineasta Rafael Ceribelli. Especialista em séries de TV, e também um amante do Cinema, ele é o responsável pela plataforma internacional de roteiros Scripitch, criada há dois anos e que desde então abriga roteiros de vários países. Trabalhamos juntos pela primeira vez em 2013, quando ele foi corroteirista do curta Parque Guanabara, dirigido por Guilherme Peraro em uma parceria com a RPC (retransmissora da TV Globo no Paraná).Há 3 anos Ceribelli tem sido um constante colaborador nos nossos projetos na Kinopus. Foi assistente de direção no longa-metragem Leste Oeste (previsto para estrear em 2016), no curta Mister H (uma coprodução que realizamos com a produtora francesa Senso Films) e também no documentário O Nadador – A História de Tetsuo Okamoto (produzido para os canais ESPN).

Amante de Fellini e Welles, leitor de Hemingway e Conan Doyle, Ceribelli também escreve. Seu conto “A Caça” será rodado pela Kinopus em breve. E já tem duas séries prontas para TV.

Entre os dias 22 e 24 de setembro, ele vai ministrar uma Oficina de Roteiro para Séries de TV no Centro Cultural Sesi, em Londrina. Esse é o primeiro curso do gênero ministrado na cidade. Asinscrições vão até a próxima semana e podem ser feitas nesse link. Restam poucas vagas.

Para iniciar essa aproximação desta Coluna ao universo de Séries de TV, enviei três perguntas ao amigo. Confira, portanto, as respostas, que são também uma espécie de aperitivo do que será o curso a ser realizado dentro de duas semanas.


 

Quais são as 3 séries de TV que mais o fascinaram? Comente um aspecto delas que o seduziu.

Rafael Ceribelli: É uma pergunta bem difícil principalmente porque a quantidade de séries de qualidade lançadas hoje em dia é surpreendente, e existem várias muito bem escritas. Para mim, a série mais marcante que já assisti ainda é The Sopranos (1999/2007), mas ela é seguida de perto por The Wire(2002/2008), Rome (2005/2007) e Mad Men (2007/2015).

Elas se destacam por motivos diferentes: The Sopranos é mais do que uma releitura da Cosa Nostra americana. A série é uma jornada pessoal do chefe de uma família mafiosa (Tony Soprano, interpretado brilhantemente por James Gandolfini), que é um homem atormentado pela própria fraqueza e pelas pressões de ser o líder de uma organização criminosa. Acabamos desenvolvendo uma empatia pela figura de Tony; olhamos para o abismo da psiquê do personagem, e o abismo nos encara de volta.

Acho que nenhuma outra série conseguiu explorar um tema com tanta profundidade quanto The Wire. Criada pelo jornalista David Simon, a narrativa é construída tendo como ponto de partida uma investigação policial para combater o tráfico de drogas em Baltimore – uma das cidades mais violentas dos EUA. A investigação se desenrola através das seis temporadas, criando um olhar complexo sobre o mundo do crime e do tráfico de drogas, e de como tudo isto se relaciona diretamente com o sistema político e jurídico na sociedade americana. É imperdível.

Rome é uma viagem épica que revela os bastidores sangrentos da transição da República para o Império Romano com uma qualidade espetacular – até hoje o melhor Julio César que já vi. Para ser historicamente correta, a série teve o aconselhamento de historiadores e foi inteiramente gravada nos lendários estúdios da Cinecittà, em Roma.

Você concorda com a ideia de que algumas séries de TV conseguiram atingir uma profundidade dramática próxima de obras da literatura e do teatro? Se sim, qual personagem causou maior impacto em você enquanto espectador?

RC: Atualmente os melhores roteiristas do mercado preferem trabalhar em séries, especialmente porque os grandes estúdios já não se interessam no investimento em roteiros originais – é só reparar na quantidade de filmes baseados em livros e HQs que entram em cartaz nos últimos anos. No meio dessa configuração, o lugar que acolheu de braços abertos a liberdade criativa dos escritores foi a televisão (e, mais recentemente, canais VOD). De modo geral, as séries de hoje abordam temas mais adultos do que os filmes lançados pelas grandes redes no cinema. Tony Soprano ainda é il capo di tutti capi, mas a lista de personagens fascinantes continua com Don Draper, Walter White, Frank Underwood, Tyrion Lannister, Rust Cohle, Titus Pullo, etc…

Como você vê o mercado brasileiro para séries de TV?

RC: Seguindo na corrente inversa da economia, o mercado brasileiro de produção audiovisual mantém um crescimento constante e tem espaço para crescer nos próximos anos, principalmente pela entrada de novos players que buscam conteúdo original. Acho que a principal questão é que ainda não temos roteiristas qualificados com formação para escrever séries. Não estamos acostumados com esse formato e precisamos dominar a técnica dessa maneira de contar histórias. Uma série não é uma novela e nem um filme ‘esticado’ e dividido por capítulos. Uma série exige um trabalho em equipe colossal, uma ‘injeção de DNA’ imensa para ela poder criar pernas e evoluir naturalmente. Não é apenas contar uma boa historia; a criação de uma série é a criação de um universo, de um jogo com regras próprias que devem ser minuciosamente trabalhadas. O desafio está mais no desenvolvimento de conteúdo do que na própria demanda do mercado.

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