(Acendendo o cachimbo e retomando velhos hábitos, a partir dessa semana volto a atualizar o Ceriblog com comentários de Cinema, seguindo semanalmente a programação escolhida pela Sessão Kinoarte)

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tres“Renoir” (Drama. França. 111 min).  Dirigido por Gilles Bourdos.  Na programação da Sessão Kinoarte do Cinesystem Londrina (Londrina Norte Shopping) até dia 08 de agosto. Diariamente às 21h35.

“Em minhas pinturas eu não uso cores negras. Já existe muita escuridão na vida”, explica um velho e rabugento Pierre-August Renoir (Michel Bouquet), enquanto escolhe as misturas para as tintas daquela que viria a ser, anos mais tarde, uma de suas mais célebres obras, “As Grandes Banhistas”. Seguindo o olhar do mestre impressionista nos anos finais de sua vida, o longa “Renoir” – ambientado na Riviera Francesa de 1915 –  mergulha o espectador nas cores vibrantes da bucólica paisagem nos arredores da última moradia do pintor impressionista; local onde o velho Renoir, mesmo sofrendo com as dores de uma artrite avançada, tenta capturar a beleza e o movimento da natureza em suas telas.

A rotina do ateliê é quebrada com a chegada de uma nova modelo, a bela e desbocada Andrée (Christa Theret), que desafia as habilidades do pintor e lhe serve como uma nova musa inspiradora, fazendo florescer nele o fogo de uma paixão platônica e ocupando, gradualmente, o lugar de sua recém falecida mulher, Aline. Desafiando o ambiente de serventia instaurado pelas outras criadas/amantes do pintor, Andrée também causa um impacto no filho mais novo de Renoir, Coco (Thomas Doret) e, especialmente, em seu filho Jean (Vincent Rottiers), que chega ao local dispensado da infantaria da Grande Guerra após sofrer um grave ferimento na perna.

Pincelada com perfeição pelo Diretor de Fotografia taiwanês Mark Lee Ping Bin, a linda atmosfera do longa consegue transmitir a importância que a beleza natural exerce como fonte primária das obras hedonísticas de Renoir; em um trabalho magnífico, cada frame é trabalhado cuidadosamente para apresentar o universo particular do artista, e sua mansão na Riviera é pintada com as cores de um verdadeiro Jardim do Éden, protegida das inseguranças do mundo ‘exterior’ – fato que, de maneira subliminar, parece incomodar Jean Renoir, despido do romantismo do pai pela crueldade da guerra.

Mas se as relações entre o velho Renoir e a bela Andrée justificam a influência que um personagem teve sobre o outro, infelizmente o papel de Jean – considerado um dos grandes cineastas do séc. XX – fica bem abaixo das expectativas. Com uma atuação que parece monocromática, Rottiers não consegue conferir profundidade ao personagem, e isto faz com que os conflitos do rapaz praticamente desapareçam, deixando em branco o importante espaço que Jean ocuparia no desenvolvimento da história.

Prejudicado pela incapacidade do ator, o roteiro também falha em sustentar a própria premissa, e não consegue expor com força suficiente o conflito entre gerações; especialmente o relacionamento de amor e ódio que os Renoir sentiam pela Arte e pelas suas mulheres (na biografia deles, ambos sentimentos caminharam sempre juntos).

Selecionado para a mostra “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes do ano passado, “Renoir” impressiona pelo visual deslumbrante ao mesmo tempo em que é enfraquecido pela narrativa irregular, que não transmite o peso que os relacionamentos dentro da familia Renoir – ao mesmo tempo carinhosa e iráscivel – exerceram sobre a veia artística de cada um de seus integrantes. O filme é lindo, mas poderia ter sido emocionante.