The_Dark_Window_by_Sirfer

 

“Você lembra daquele dia que te encontrei na casa do —–?”, Rodrigo disse, fitando aqueles lindos olhos claros, de cor de mel, ou verdes, ou da cor do canto das sereias, com a melodia que atrai marujos ensandecidos para a morte certa junto às rochas.

Ele não era nada demais; um cara normal de 30 e poucos anos, em um emprego medíocre de uma cidade sem surpresas.

Ela era irresistível, e a imagem dela acordando com o rosto virado para a janela – com cabelos loiros caindo sob os seios delicados – iria assombrar os seus sonhos para sempre. Um pouco tímida, ela sorriu, espalhando clareza instantânea por um mundo confuso e barulhento, de almas vazias e luzes azuis.

Ele suspirou, finalmente entendendo a dimensão do que sentia por aquela mulher  praticamente desconhecida e, por consequência, entendendo o que todos os poetas sentiam por algo incompreensível. Queria emoldurar a beleza, mas o belo é sempre fugaz. Aquele sorriso sempre foi como uma estrela cadente, carregada de desejos, rasgando a escuridão da existência.

Quando ele estivesse velho, sentado em um sofá desgastado pelas memórias, pensaria em frases aleatórias. Em sentenças sem fôlego. Em meias palavras que nunca diziam nada. “O amor está morto. Nós os matamos”, repetiria para si mesmo, sem ter certeza se realmente pensava aquilo ou se tinha lido em algum lugar.

E entenderia, de certa forma, que a Nostalgia é como uma deusa grega. Bela e terrível, ela se arrasta por janelas abertas, carregada pela brisa de noites de sexta-feira, cochichando mentiras sobre o passado e brincando com sombras que não existem mais.