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Eu apenas observava sonolento e, depois que ela acabava de falar sobre todas as coisas do mundo, prestava atenção na sua respiração acelerada e nas batidas do seu peito fora de ritmo. Ouvia ela suspirar olhando para o teto, antes de me abraçar. “Me conta alguma coisa”, pedia. É doce a ilusão da perfeição; ela era alimentada por histórias, eu era um contador de histórias. Mas nessa hora nós dois ficamos quietos, ouvindo a chuva cair lá fora. Nesses momentos, falar para quê?

Respondia percorrendo seu corpo; entrelaçando meus dedos nos dela, apertando levemente sua barriga, suspirando o perfume de seus cabelos negros. Ela entrava nessa dança dos sentidos mordiscando meu pescoço e me olhando com curiosidade. O que eu queria? Talvez, desaparecer. Mergulhar no vazio de uma sensação sem nome.

A tempestade despencava impiedosamente pela cidade e sob nosso teto de espelhos; a lua cheia era encoberta pelas névoas na madrugada daquela sexta ou sábado, surgindo como imagens que estão guardadas na minha memória com o mesmo sentimento de pinceladas de Monet.

Minhas noites de junho foram assim: champagne, suor, prazer e dor, seu sorriso e algumas lágrimas pelo caminho.

E, agora, te escrevi em papel.

Posso te imprimir e guardar no bolso, te levar para onde eu quiser.

Agora, só agora, você é minha.

Esta cidade é minha.

Este momento é meu.