Trechos do livro A Moveable Feast, de Ernest Hemingway. Traduzido e editado por Ceriblog.

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“Era um café agradável, quente e limpo e amigável, e eu pendurei meu velho casaco na estante de casacos e meu chapéu de feltro no banco e pedi um cafe au lait. O garçom me trouxe a bebida e eu tirei meu caderno de anotações do bolso e meu lápis e comecei a escrever. Eu estava escrevendo sobre a cidade de Michigan e como estava um dia frio, selvagem e com ventos fortes este era exatamente o mesmo tipo de dia da minha história no papel. Eu já havia visto o fim do outono quando era criança, jovem e adulto, e em um lugar às vezes você consegue escrever sobre uma coisa melhor que noutro. Isto é como transplantar a si mesmo, eu pensei, e pode ser necessário tanto para pessoas como para outras coisas que crescem. Mas na minha história os garotos estavam bebendo e isto me fez ficar com sede e eu pedi para o garçom uma dose de rum St. James. O sabor da bebida era maravilhoso naquele dia frio, e eu continuei escrevendo, me sentindo muito bem e sentindo o bom rum de Martinique aquecendo meu corpo e meu espírito.

Uma garota entrou no café e sentou-se sozinha em uma das mesas perto da janela. Ela era muito bonita, com um rosto que parecia fresco como uma moeda recém forjada e com uma pele suave e molhada pela garoa, e seus cabelos negros como as asas de um corvo, cortados diagonalmente e terminando na altura de seu queixo.

Eu olhei para ela, e ela me perturbou e me deixou excitado. Eu gostaria de poder coloca-lá dentro da minha história, ou em qualquer lugar, mas ela havia sentado de maneira que podia olhar para a rua e para a entrada, e eu sabia que ela estava esperando por alguém. Então eu continuei escrevendo.

A história estava se escrevendo sozinha e eu estava com dificuldade para acompanha-lá com meu lápis. Pedi outra dose de rum St. James e eu observei a garota sempre quando olhava para cima, ou quando apontava meu lápis com o apontador, deixando pequenas lascas de madeira caírem embaixo do meu drinque.

Eu te vi, linda, e você pertence a mim agora, quem quer que você seja, ou quem seja o homem que você está esperando. Mesmo que eu nunca mais te veja novamente, eu pensei. Você pertence a mim. E toda Paris me pertence, e eu pertenço a este lápis e este caderno de anotações”