*retirado do livro “Conversas com orson Welles”, de André Bazin
Procuro sempre a síntese: é um trabalho que me apaixona, pois devo ser sincero em relação ao que sou e não passo de um experimentador; experimentar é a única coisa que me entusiasma. Não me interesso pelas obras de arte, pela posteridade, pela celebridade, apenas pelo prazer da própria experimentação: é o único domínio em que me sinto verdadeiramente honesto e sincero.
Não tenho devoção alguma ao que faço; é realmente sem valor aos meus olhos. Sou profundamente cínico em relação ao meu trabalho e à maioria das obras que vejo no mundo. Mas não sou cínico ao ato de trabalhar sobre uma matéria-prima. É difícil explicar. Nós, que fazemos profissão de experimentadores, herdamos uma velha tradição: alguns foram grandes artistas, mas nunca fizemos musas de nossas amantes.
Agora estou escrevendo e pintando, buscando um meio de gastar minha energia, pois passei a maior parte dos últimos anos correndo atrás de dinheiro; se fosse escritor, ou sobretudo pintor, não teria que fazer isto. Não posso passar o resto da minha existência em festivais ou em restaurantes mendigando fundos.
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